terça-feira, 2 de agosto de 2011

DERIVAÇÕES DO SER

AUTOESTRADA EM CONSTRUÇÃO


Os silêncios são ferros agrilhoados nos instantes
das noites frias. Gemendo, grasnas no monte
verde e negro e voas veloz pelo caminho
que te serpenteia, como fonte luminosa do lugar
que habitas. Sons bravos, ruidosos, ecoam nos silêncios
que desejas ter. Chilreios de aves, como mágoas de luto.

Não ouves o cantar dos anjos hoje?
Só barulhos. Pesadas máquinas na estrada conduzidas
por homens de rosto tisnado pelo sol de verão. Escuta!
Aí vêm eles! Este som que sobe como se quisesse
viver tudo num instante, fugindo pela serra acima.
Os silêncios de ontem ecoam agora destruidores
dos campos que vejo ao longe!

São os sons das máquinas trituradoras
de pedras, terra e urzes verdes que não voltarão
a ver a luz do dia.
São corpos em almas atormentadas de pensamentos
raros, fugidios, de instantes...
São os homens no seu trabalho árduo, e, o seu som,
é o som do segredo mais doce, a canção da alma e
da vida na conquista do pão e da esperança!

É o tempo da distância mais curta de partir ou chegar
ao lugar onde nasceste, te criaste, pois não sabes se
vives ou não…
Porque tudo muda. O tempo, é a rapidez do lugar.
A incerteza do encontro de amanhã.
É tudo o que é, foi e será!


2011.08.01




SEARAS MADURAS

Uma brisa suave embala teu rosto como cântico
de aves ao longe…
O intenso perfume a mel sobe no ar e cruza-se
com o aroma dos campos de searas cheirando a quente,
a calor tórrido de verão e a espaço de mar inundado
de papoilas rubras que despertam no meio das setas
de agulhas que ferem teu corpo, porque ousaste
percorrê-las em sensações todos os dias.
Os cânticos das cigarras são silêncios para os teus ouvidos
surdos e cansados do trabalho árduo.
O fruto das rochas em fontes de água viva,
matam tua sede ácida do suor que cobre teu rosto.
Querias uma sombra para descansar teu corpo em brasa,
e teu cérebro que palpita como latidos de cão enraivecido.
Em vão…

Não esqueças que a vida é
um avançar com retrocessos e momentos de quebras
de esperança.

Não esqueças que a vida é
um campo de maduras espigas que te dão pão,
com dor.


2001.08.01



CHUVA


Se a chuva viesse!
Quisera que a chuva chegasse fresca, calma e caísse
sobre a terra inundando-a de cheiros húmidos e fecundos.

Quisera que surgisse e acalmasse este ar quente e abafado e
o vento que sopra nas árvores como que à procura
de um lugar para morar, se torne em brisa suave e as afaga…

Quisera eu que ficasse aqui por uns dias e alimentasse
as nascentes e os poços, regasse o teu seio de leite
e mel, e, o teu ventre se torne fecundo,
ó terra!


2011.08.01

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