sábado, 30 de maio de 2020

ENSAIO: Terra D`Encontros


PEQUENO ENSAIO
À VOLTA DE
"TERRA d` ENCONTROS"

de Carla Espírito Santo Guerreiro e Lídia Machado dos Santos

Tão disperso fisica quanto unido espiritualmente, o povo judeu, ou "povo da nação", "esse povo admirável", como diz António Pinelo Tiza no Prefácio do livro Terra d`Encontros, de autoria de Carla Espírito Santo Guerreiro e Lídia Machado dos Santos, Edição de Manuela Pereira / A minha vida dava um livro, 2016, que foi expulso da terra prometida, como o foi em terras da sua diáspora, são os protagonistas desta narrativa, romance histórico, que, situado desde os finais do século 19, até finais do século 20, se passa fundamentalmente em Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta.
"Os marranos" ou judeus da península Ibérica, sefarditas, que se viram obrigados a abandonar a lei judaica e a converterem-se ao cristianismo, mas continuando alguns a praticar secretamente o judaísmo, espalharam-se desde Rebordelo até Freixo de Espada à Cinta, e ao longo da raia do distrito de Bragança com Castela, Leão até à Galiza.
A sua Torah (Torá),  lei fundamental, constituída pelos 5 primeiros livros da Sagrada Escritura, manteve-se vigente desde a expulsão dos Reis Católicos de Espanha, apesar de muitas vezes em plena ou semiclandestinidade, pois muitas comunidades de cristãos-novos celebravam secretamente, nas 6ªs feiras à noite ou escurecer da véspera dos sábados, as cerimónias religiosas da sua doutrina.
Na similitude e paralelidade dos caminhos da sobrevivência e do espírito, do querer e poder, do trabalhar e orar, eis a contradição e face de duas moedas da vida, as duas "capas", o pão e a fé. Como era ser corajoso, forte, necessário e capaz de uma dualidade, bipolaridade de comportamentos e atitudes?
Marrano e não casher (impuro, porco), nascido do lado de lá da fronteira, Ezequiel, convencia-se a si próprio para se tornar um homem de ação.
Adonai, Deus Senhor, Bendito sejas Tu, Rei do Universo, protegei o "povo da nação", tornando-o forte e fecundo, tal como Ester sonhava ter nos seus braços Benjamim, apesar de cansada por não poder fiar, nem plantar, nem lavar, dado o estado de gravidez em que se encontrava. Tinha sorte em não ser como as outras mulheres casadas que "pariam, fiavam e choravam". O seu rebento, seria o "seu filho da mão direita", que o marido "afagaria nos braços com uma ternura de que nunca se imaginara".
Catarina também nasceu em Lagoaça nesse início do verão de 1880, após Belchior comprar uma casa e cortinha na Rua de Cima, em segredo, de mansinho, saindo de manhã e regressando à noite dos seus negócios e azáfamas quotidianas. A família atravessou a fronteira vinda de Espanha e passando por Santulhão e Carção, e, ali se fixou, já com alguma fortuna, enganando o Padre Juvenal Teixeira com o batizado da pequena, a realizar uma semana depois pela religião católica e que eles concretizaram nesse dia, pela sua religião hebraica.
Em dia de feira, com a barraca montada, Ezequiel recebeu a visita do Padre Juvenal, com 60 anos e desde os 25, pároco de Lagoaça, tendo estudado no Seminário de Braga, pois era superior ao de Bragança, ele nascido em Ligares e filho do Zé do Moinho. Queria que o raparigo (rapaz) Benjamim fizesse a 1ª Comunhão e frequentasse a igreja, principalmente a missa ao domingo, assim como toda a família. Aliás, há muitos anos que não frequentavam a igreja, desde o baptizado da criança. Ezequiel concordou perante o Padre. Interiormente, porém, ficou triste, por não ter a capacidade e a coragem de se afirmar seguidor da religião mosaica.
Na aldeia havia 3 pensões, cada uma com sua clientela específica e entre elas a inveja e a guerra predominavam, principalmente nas mulheres, donas de duas delas: Reguengos e Aninhas Fortunato. Na 1ª parava gente fina, como médicos que iam á aldeia dar consultas; na outra, os peliqueiros, onde paravam pouco tempo. A última, que era do Sr. Manuel Bastos, era a mais pobre, parecendo um albergue.
Albertino Reguengos queria conhecer mundo e cumpriu. Um dia, cansou-se dos insultos de Fátima, sua mulher, e decidiu ir para o Brasil, deixando-lhe um recado escrito em papel.
Casimira com 3 filhos de pai incógnito, decidiu deixar Poiares e rumar a Lagoaça. Trabalhava onde calhava, compelida por todos os sonhos que brotavam da sua coragem e aí lhe arranjaram casa e mais 3 filhos, todos de pais ricos, e ela, mãe pobre.
Tal como as meninas de Lagoaça que brincavam, cantavam e riam em frente à casa de Laidinha, filha dos condes Seixas de Tancredo e Silva, também ela gostaria de ter brincado em vez de ficar prisioneira na varanda ou naquela grande casa senhorial de dois pisos de grandes janelas que os senhores residentes no Porto ocupavam durante 2 meses no Verão.
O futuro de Maria de Lurdes seria bem diferente da sua infância pobre pelo cuidar dos irmãos mais novos, lhe fazer o caldo, lavar a roupa, arrumar a casa. Luísa, a senhora da casa grande, pediu a sua mãe, Casimira, que lha trouxesse para sua casa a fim de fazer dela uma mulher capaz e feliz
No paradigma do paraíso da infância e tal como dizia Garcia Marques: " a vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda, para contá-la".
Caminho no espaço e no tempo e vejo a infância de muitas de nós retratada. Pois, a terra natal onde nasci, não fica muito longe. Logo ali ao lado, no concelho de Torre de Moncorvo, Felgueiras, pouco mais de uma vintena de quilómetros. Lembro os costumes, os hábitos, as atitudes e revejo tudo isso nesse longínquo período das nossas vidas. O primeiro. Aquele que nos moldou e nos fez os seres humanos que nos tornámos, na simbologia que trás consigo a recordação e saudade da magia da infância. O que aprendemos, as nossas fontes, as nossas raízes estão lá, nesse lugar! Também lembro o sermos  as mais velhas de seis ou sete irmãos. Também o cuidar dos irmãos mais novos. Também fizemos o caldo e cozemos as batatas aos 8 anos de idade e  lavámos a roupa no tanque da Carroceira. O nosso futuro foi bem diferente da nossa infância, pelos estudos que realizámos, pelo que lutámos, pelo que nos aventurámos e conquistámos em outras terras prometidas. Em outras terras de encontros e desencontros. As nossas e de cada uma de nós, jovens outrora, porque não fomos crianças, mulheres, agora.
Adosinda também regressara à sua aldeia, após 20 anos de vida carmelita e viajar pela Itália e muitos outros países. De pé boto, fora marginalizada pela própria família, só por a verem falar com Negrão, rapaz que tomou uma vez banho na vida, como um acto sacrílego pois poderia trazer muita vergonha à família. Regressou para se tornar a alma da paróquia e de grande ajuda ao padre João, cuja maior fraqueza era o pecado da gula.
Também Juan Ribero e Angel quiseram ficar em Lagoaça. Vieram a salto do outro lado da fronteira, Masueco de Castilla y León, onde a miséria predominava em casa de sua mãe, prometendo-lhe que um dia regressaria e lhe colocaria um telhado novo. Mas antes, entrou ao serviço de Fátima, ajudando-a nos trabalhos pesados, de homem, de que carecia, após a ida do marido, Albertino, para o Brasil.
Lurdes transformou-se numa autêntica dona de casa e uma verdadeira sucessora de Luísa e Manuel de Matos. Além de ler, escrever e contar, concluindo o ensino primário, tudo o mais aprendeu: desde a vida doméstica e sua organização, até à vida do campo.
E Lurdes casou com Benjamim, numa festa de arromba. Num encontro em Terra d´Encontros. Ela, que o mais longe que foi, foi a Moncorvo, filha de pai incógnito, acolhida, criada e amada pelas pessoas da casa grande, os Matos. Ele, nascido no Bairro de Baixo, filho de sapateiro, guardador de patos e ajudante nos trabalhos agrícolas, indo trabalhar e viver em Lisboa, como Guarda Municipal, onde casou com Rebeca, que conheceu na comunidade judaica, e que veio a falecer de tifo, assim como um dos seus filhos. O outro que resistiu, Isaac, vivia no Rio de Janeiro com a família da mãe.
Era festa de Nª Srª das Graças, festa anual da aldeia num mês de Setembro. Albertino regressou para pedir perdão a Fátima, que cumpria uma promessa atrás do andor, cuja menina Adosinda tratou de tudo.
A vida continua. Os anos passam. Os acontecimentos seguem o seu percurso, o caminho que cada um tem de percorrer. O seu.
São as 3 filhas de Benjamim e Lurdes, Belarmina, Arminda e Amélia, que estudaram e casaram com as pessoas que escolheram e/ou lhe foram apresentadas, como Arminda, com Aurélio, natural de Poiares e sargento em Moçambique, e, a quem Benjamim entregou uma Bíblia que ainda hoje repousa entre as memórias da família.
Lagoaça, Terra de Encontros. De vidas simples, complexas, únicas, de judeus e cristãos. Velhos e novos. Ricos e pobres. Nobres e plebeus. Agricultores e sapateiros. Comerciantes e padres. Estalajadeiros. Emigrantes. Freiras deficientes e mendigos. De zorros e filhos do casamento...
Fecunda é a vida que desabrocha no sonho escurecido pelo tempo. Ouvi-Te Adonai no inicio da minha existência e segui-Te como apóstolo que procura a verdade da vida. Quisera ver-Te, ouvir-Te, porque Te sinto todos os dias em que me encontro a mim mesma.
Estou na terra de encontros. Estou aqui nesta terra longínqua ou tão perto da centralidade. Não só interior ou sim, mas centro, segundo novo ponto de vista. Centro e periferia. Fronteira necessária para a fuga quando necessária. A minha Pátria é todo o mundo. Toda a terra para se conquistar, habitar, trabalhar. Sonho com a terra prometida. Sonho que um dia regresso à Pátria amada. Sonho que um dia partirei e me encontrarei contigo! Mas tantos homens, mulheres e crianças do "povo da nação" para trás ficaram. Morreram ou integraram-se em outras culturas ou religiões. Foram espezinhados, torturados, expulsos de vários Países, condenados em Tribunais de Inquisição, lançados em fogueiras, mortos famintos em câmaras de gás, holocaustos de vida... Também Te negaram ou sentiram necessidade de o fazer, a fim de sobreviverem. Sentimos saudades deles. Lamentamos a sua perda. Porque são nossos. Mesmo assim, são nossos ainda. Serão sempre nossos. Um dia voltarão. O "povo da nação" terá um território, uma Pátria só sua...um País em que a liberdade, tão dificilmente conquistada, será a luz brilhante e luminosa dos seus caminhos...
Linguagem acessível, fluida, usando e abusando de regionalismos, mas que as autoras esclarecem com muitas notas de rodapé, merece ser lido e refletido, para se conhecer a história, a vida, os costumes, os hábitos, de há mais de 100 anos atrás, que percorre 4 gerações,  nessa aldeia de Lagoaça de passado, presente e futuro, do concelho de Freixo de Espada à Cinta, mas que espelha todo o nosso mundo rural, nesses actores longínquos em representação ou autores tão próximos, que sofreram as amarguras da vida, mas tiveram a coragem de enfrentar o medo e a pobreza, para partirem e um dia regressarem.
Romance em 200 páginas, escrito num trabalho de parceria entre as duas autoras: Carla Alexandra Ferreira do Espírito Santo Guerreiro e Lídia Maria Machado dos Santos, para saborear e apreender até  ao fim, conhecendo o tempo histórico, o ambiente social e cultural, a vida económica, o espaço geográfico, sociológico e psicológico, de um pequeno mundo fechado, mas que se abre para além dele, como espelho e reflexo de mais espaços e regiões tão díspares, quanto próximas.
Carla, invoca a sua herança, os seus bisavós judeus e os seus avós cristãos. Invoca e lembra, recordando com todo o amor e carinho a sua história, contando-a para todos nós, para que as memórias não se apaguem, nem fujam,  e se aconcheguem, como um abraço que as envolve e lhe diz o quanto as ama, as compreende, e, o quanto está orgulhosa delas na identificação do seu eu.
 Lídia, as mulheres da sua família, que lhe contaram histórias maravilhosas e lhe abriram a imaginação e a criatividade para continuar o seu caminho. Ela, que o quer seguir também. Não fechado no seio familiar das vozes femininas dos Machado, mas na dimensão abrangente, global, de imensas outras crianças, milhares de crianças, com direito a sonhar, com direito ao encantamento desses contos reias e imaginários, que lhes inundam o espírito de alegria e felicidade.
Obrigada, pela vossa partilha! Bem hajam, pois!
Bragança, 10 de junho de 2017
Maria Idalina Alves de Brito (Lara de León)

ENSAIO: Retrato de Rapaz e Passos Perdidos


PEQUENO ENSAIO
À VOLTA DE
"RETRATO DE RAPAZ" de Mário Cláudio
 e de "PASSOS PERDIDOS" de Ernesto Rodrigues

Inusitadamente leio um e outro e semelhanças surgem: enredo, escrita, discípulos. Retomo leitura, reflexão. Mais escrita e discípulos, talvez. Passa tempo.
Mário Cláudio diz muito em pouco espaço e tudo em tempo reduzido. As palavras querem-se ganhas, contidas, trabalhadas, buriladas em final de pena.
Ernesto Rodrigues enreda ironicamente uma história ficcional em tempos presentes, postos em causa por regime político, dito democrático.
Existe um discípulo.
Num, um pai adoptivo, um mestre, um herói, um ídolo.
Noutro, um pai verdadeiro, (dois pais) que rejeitou a sua existência e vem mais tarde redimir-se de tal acto.
"Retrato de Rapaz" é uma pintura cromática de Leonardo da Vinci, intensa, odorosa, plena de afectos, em miscelânea de decepção, dor e angústia. Mário Cláudio é o Mestre, o Homem.
Ernesto Rodrigues, em "Passos Perdidos" de rebeldia, mediocridade, amorfismo, hipocrisia, vaidade, inveja e maledicência, põe-nos perante um enredo presente de uma realidade nua e crua que transforma em ironia, questionando-nos de forma aspiciente sobre o nosso passado e o nosso presente. Maravilhoso e multifacetado romance!
Cinco séculos é tempo demais? Para quem, se comportamentos humanos semelhantes?
Leonardo, de quem não se conhece qualquer relação amorosa, foi talvez o caso mais famoso de esquerdismo, diz-nos Mário Cláudio citando Sigmund Freud. Porém, o presente herói, é o  discípulo eterno do Mestre, rapaz belo, de rosto bronzeado, cabelos aos caracóis, 10 anos de vida. Modelo e discípulo picado de pulgas no pescoço e a quem nem a lavagem consegue remover o sarro acumulado. Garoto confrontado por umas pupilas azuis do tom das pétalas da pervinca, mestre, amo, pai, amigo, deus, monstro e feiticeiro. Tal mafarrico, Salai, merece mais um par de corninhos do que umas asas de anjo, mas Leonardo mandou talhar-lhe "duas camisas, dois calções e um gibão". Um criado novo para varrer o chão da oficina, que pose para um ou mais desenhos, um catraio e diabrete, a quem foi necessário dar banho, catar os piolhos e ensinar o nome dos bichos da terra.
A Arte da Política (diga-se Furtar com unhas políticas), encerra dois preceitos: o bom para mim e o mau para vós, e, a razão de Estado, pois, não estou seguro, tendo junto de mim quem me faça sombra. Pergunta Ernesto Rodrigues: um jovem político com futuro ou um jovem com futuro na política? Aí está a diferença. Subir a escadaria da Assembleia da República, entrar nela, na sede da democracia, apesar da falência do regime, auscultados por dois lagos azulinos e "seios suspensos, ali na minha cara túmidos de vergonha", no outrora Mosteiro de São Bento da Saúde ou de S. Bento dos Negros. Os Passos Perdidos, obra de artista com história, onde se passeiam vaidades, ódios, rancores, hipocrisias e negociatas. De mão flácida e com cheiro a suor de 3 dias, deputado surge: - Às ordens de Vªs. Exªs., ... "já que para ele os votos são matéria volátil, como a própria vida, ele que se ia candidatar pela 15ª vez em quatro décadas". CEO pronto, oferece os seus humildes préstimos, colocando jovem colaborador ao seu serviço, já que ele não pode surgir mais nesta mistura de negócios, melhor, banco de investimento, com política. Escolha? Defesa da nação há décadas, sem sair "da última fila do hemiciclo", já que o maior perigo vem do próprio partido e das amizades fingidas.
Ladrão e mentiroso, teimoso e ganancioso, discípulo de má sorte, mas a quem a amizade moldou inquebrantável. Era necessário ensinar-lhe a não ser vaidoso, nem arrogante, pelo que a bela vestimenta que lhe mandou fazer, foi destruída, logo que a vestiu. Seguia-o como cachorro, por isso as pessoas pensavam e ofereciam olhares intencionais "insinuando um relacionamento entre eles que talvez fosse preferível deixar por esclarecer". Mas havia verdadeiros discípulos, como um tal Marco d`Oggiono, favorecido por um talento invulgar a quem o Homem "protegia com desvelo superior ao que dedicava aos restantes". Argila, bronze, pincéis, moldes, papéis, lâminas de refracção, tintas, como a vermelha, que continha "clara de ovo, cinza, vinagre, terra, pó de tijolo, alcatrão, óleo de linhaça, terebentina e sebo".
O capitalismo tem de repensar-se perante a penúria de quatro quintos da humanidade. Tal desiderato ocorrido ao aprendiz de economia em entrevista com estagiária de jornalismo, brasileira, de Ipanema, a quem expôs o benefício de escrever artigo sobre determinado deputado. As congeminações financeiras de "não confiar", "antes de mais, evitar ser apanhado em fraude fiscal e abuso de confiança" ou "venha a nós o vosso reino", continuava insidiosamente o aprendiz referindo à estagiária os bons serviços prestados ao jornal, à banca e à democracia, embora ambos não passassem de uma peça de engrenagem, disso tinha consciência. Mas continuava com a lição bem estudada, este nosso herói de 1ª pessoa, em "mandar descobrir qualquer coisa encoberta da vida" do "Frade Negro". E falava do comportamento político desse "Frade Negro" que era nenhum. Ele próprio, que não era "sua opinião, porque não tinha opinião". Na discussão da vida política parecia, a pouco e pouco, esmerar-se, chegando mesmo aos artigos da Constituição da República e ao seu preâmbulo" "abrir caminho para uma sociedade socialista" por que não "abrir caminho para a felicidade".
Não seria mais simples e eficaz? Pois não é o que desejam todos os seres humanos, serem felizes? Como? Cada um à sua maneira! Como conciliar então, interesses tão díspares e visões heterogéneas de felicidade?
O artista e mestre continuava no seu trabalho árduo apoiado pelo seu discípulo, que lhe seguia os passos na preparação de grandes festas de casamento dos nobres de Nápoles. Também o levaria a ceata de atrevido marmorista rico de mãos finas, lisíssimas e ágeis para a idade. Dar-lhe-ia a sua própria mãe como avó, no "Amai-vos, como eu vos amo". Porém, ao aprendiz de nada servia tamanho carinho, já que se tornou o chefe da quadrilha horrenda de monstros, provocando no Homem e em sua mãe Catarina, lágrimas e rezas para afastar tal abismo.
Que paradigmas ousas sonhar e criar Mário Cláudio? Que campos, programas de pesquisa, produção de conhecimentos organizados, sistemáticos, queres actualizar de conceitos e de valores, transformando a filosofia especulativa em filosofia científica? Que forma lógica e rigorosa dessa prática te questiona na uniformização de dizeres que todos os filhos são ingratos perante aqueles que se entregam e dão incondicionalmente?
Não esqueças... há filhos e filhos, e filhas, ( o feminino é fundamental ).
Procuras reforçar uma lógica da confirmação e da teoria da verisimilitude, ou queres entrar na ética da produção científica?
A educação não é aprendizagem de uma visão da realidade, já que esta é múltipla, plural, complexa?
Esta linguagem de cálculo lógico, para se tornar ciência, tem de introduzir factores de realismo na descrição da realidade, o que se refere como objectivo: o que é falso e o que é verdadeiro.
Tudo tem um significado? Um entendimento? Os porquês precisam-se. Porque filhos da mesma mãe e do mesmo pai, têm comportamentos diferentes para com eles? E... geralmente...são aqueles mais amados, mais ingratos...
O comício do deputado democrata cristão em plena 6ª feira da Quaresma, ele tão silencioso? A vida do Parlamento e da geração do nem, nem, nem (nem estuda, nem trabalha, nem emigra) confrontavam-se com a vida do economista estagiário que em 2 dias "já comera aquela estagiária; conhecera este-legislador" e não só... a adjunta e chefe, a secretária do deputado. Em suma, um "comunismo de afectos".
Eis o jovem de hoje que mergulha na solidão do espaço temporal em que se sente perdido, único e só, como um sobrevivente de terramoto surgido em plena noite, e, se questiona o que lhe aconteceu, pela manhã. Que sentido dar a uma vida dedicada ao estudo, a uma licenciatura, um mestrado, um doutoramento? De que lhe serve se, no mercado de trabalho aufere melhor salário um aprendiz de qualquer coisa? Houve / Há escravos em todos os tempos da história da humanidade. Retrocedemos milhares de anos. Os escravos de hoje, são os jovens com habilitações superiores e vencimentos de miséria; são a classe média, a quem lhe tiraram os rendimentos na perspectiva do acesso a casa própria, carro, e, a dignidade para viver; são os idosos, que nada mais podem acrescentar à sua parca reforma para ajudar filhos e netos; são as crianças nascidas e em projecto, porque ainda não é tempo de nascerem, pois os pais não têm pão, nem coragem  para os colocarem neste mundo e os poderem criar; somos todos nós, adultos, que lutámos na esperança de uma vida melhor, passando infâncias atribuladas, mas ricas em valores humanos, e uma juventude em trabalho, suor e lágrimas , com  ilusão a felicidade.
Já jovem, com a idade de 16 anos de ganapo passara, mas não em mentiroso, vaidoso e ladrão. Visitou a família paupérrima em sua terra natal, Oreno, fazendo-se passar por quem não era, montado em ginete que Leonardo lhe emprestara. Mal sucedido na tentativa da conquista da filha do cônsul, Bianca, Giacomo, rebaptizado Salai, não lá voltaria tão cedo. Mas desgosto maior foi quando regressou à Corte Vecchia e ao atelier de Leonardo, pois Catarina, sua 2ª mãe, encontrava-se morta. Mas as acções menos nobres, as comezainas, festas, favores corporais e roubos eram o seu quotidiano, a que Leonardo, por mais que o chamasse à atenção e lhe mostrasse a sua tristeza, o demoviam.
Mas a vida de um jovem economista sem provas dadas, não é fácil. Ele são as bolsas, os fundos de acções, obrigações e derivados, os mercados cambial, monetário, e das matérias primas, o mercado imobiliário, spreads, agências de rating, enfim, o sonho de todos se tornarem ricos. Que dizer da inexistente justiça inteligente e do crescimento de lóbis, que é o mesmo que dizer "insidiosa corrupção "e da maranha de holdings que entontecem qualquer um", e os esquemas de fugas dos impostos pelo "desprezo da humanidade". "Quanto mais estúpido for o candidato, melhor responderá ao elogio". Enfim, "os partidos, sem princípios, perderam há muito a ideologia: urge recuperá-la, e aos princípios". Pois, "a arte suprema é propor lei absurda (do nosso interesse) que os hábeis legisladores tomem por séria" e que os escritórios de advogados mais baralhem. E que dizer da Lacailândia onde "cheirar a sombra de um rico é sorte prodigiosa", como se a riqueza se transmitisse por osmose. Pois, há que intervir em todas as frentes para apanharmos o "Frade Negro", dizia o estagiário. Mas antes, há que desopilar, arejar nesse cafarnaum dos festivais de Verão onde o ruído é superior a "uma dúzia de anões ou acampamento militar" onde se misturam drogas livres, comes e bebes e mais drogas, álcool e prostituição, consentidas pelos seguranças e pela organização desde que não façam estragos, pois a procura é a felicidade do instante e a saúde da recuperação um negócio de "corações aos saltos".
As sentidas razões contra o abandono na infância marcam, como auroras boreais, ou homens nas cavernas, os pequenos e grandes seres, de sensibilidades excessivamente impressionáveis. Voa o tempo, mas este é insuficiente para apagar o tempo que passou e passa, na inquietude das vivências quotidianas, tais jogos de sedução e de ilusão de espelhos, mas também com gestos de ternura, e de liberdade da dignidade do Homem, não é, Ernesto Rodrigues?
Ah, os homens! Esses seres tão magníficos, cruéis, ternurentos e frios. Egoístas e egocêntricos! Vivemos num tempo de mim, mim, mim. Falo só de mim, quero-me a mim. É tudo para mim! Que geração de jovens criámos, a quem demos tanto e nada querem dar? Ensinámos-lhe que tudo poderiam obter facilmente, sem trabalho, nem responsabilidade? Depois, no confronto com a realidade da vida, da crise existencial, tudo ainda nos querem tirar, porque não os ensinámos a viver sem nada. Querem a felicidade que lhe prometemos e para a qual os orientámos, que agora não existe como modo e projecto concretizável! Culpa enganosa do singular com origem em plural ganancioso, que ilude na mira do lucro e do poder, e, nesse consumismo predador!
A sua acção pérfida continuou, enganando uma donzela, e, que antes, que o obrigassem a casar "pôs-se ao fresco", para seguir outros caminhos escusos, como o contrabando do "lápis lazúli". Designado o seu pó afrodisíaco, mas na verdade produzia sonolência, turbava os sentidos e dissolvia a razão numa anestesia quotidiana do jovem Salai. Leonardo sofria. Porém, o seu discípulo continuava nessa vida de fantasia com outros companheiros de jornada e aprendizes na oficina do Homem, falamos de "Zoroastro" de seu nome Tommaso Giovanni Massini, ou do cardeal português Dom Miguel da Silva, bispo de Viseu.
Estagiário João Félix e Deputado João Félix Filostrato em Vila Franca. Seu comício, seguido de entrevista da estagiária jornalista, Joana, comprada na mira de ter um emprego fixo. Eis os jogos florais da politica: do comunismo e do capitalismo. Mas entrevistar Deputado não foi  tarefa fácil. Tanto mais que "Frade Negro" fugia aos cânones do geral, do singular, do esperado. A publicação da dita entrevista arrasou com a pasmaceira e vendeu. Qual seria o segredo do "Frade Negro"?
Confrontado com o envelhecimento visto ao espelho,  não só pelo avançar da idade mas também pela vida nefasta e dissoluta que levava, o discípulo manipulava os desejos do canhoto , trazendo-lhe outros modelos mais jovens mas que ele considerava serem inferiores a si próprio. De nada lhe valia a lavagem da pele com o elixir de bergamota. A sua maldade influenciava a sua pintura nos rostos que tentava pincelar. Nem a mão que Leonardo lhe pegava e o guiava no contorno do desenho melhoravam o seu dom criativo. O mestre orientava-o e amava-o como a um filho, a que este não correspondia. Mesmo com os castigos incutidos, Salai negava-se a seguir qualquer caminho com seriedade. Leonardo pedia a todos os demais discípulos para lhe esconderem a droga do lápis lazúli, pois levaria a oficina à bancarrota.
Mário Cláudio relata prodigiosamente a vida dissoluta do discípulo de Leonardo da Vinci e as preocupações deste no presente e futuro do jovem drogado. Quão hoje, são também as preocupações de muitos pais, cujos filhos seguem vidas de marginalidade e dependências de vária ordem.
O debate da dita lei revolucionária esperava-se no dia 7 de abril, terça-feira. Que confusão ia por aquela Assembleia da República (AR), jornais, TVs e pelo País. Agora sim. Agora todo aquele pessoal ia ouvir, ao fim de 40 anos, o insignificante famoso "Frade Negro", nesta "babilónica barafunda de interesses, paixões e delírios que se contrapunham aos valores fundamentais da dita democracia".
Ernesto Rodrigues é magnífico nesta descrição. Usa o simples linguajar, a complexa gramática, a filosofia grega, a informática e as "redes sociais". "O medo do inconseguimento", a linguagem arcaica, gótica, ultramoderna, pós-moderna da Srª Presidente da AR. Maravilhosa análise crítica! O passado e o presente da vida política, social e económica do País em páginas de verdadeira hecatombe crítica do Estado da Nação!
Um discurso de belas palavras e mais intenções. Uma lição de economia e finanças sobre como gerir as receitas e as despesas de um Estado. Porque, "Governar é Resistir".
Governar é resistir? Às pressões, aos hobbies, às manhas de manipulação, às amizades interesseiras, à fraude e corrupção. É preciso ser tão forte, que nada nem ninguém, nos consiga desviar do caminho da justiça e do bem da polis, da cidadania. Quão poucos o conseguem!
"Um Discurso e Pêras", cabendo a palavra em "má ocasião" de situação tão crítica em que se encontra o País e o Povo, devendo cada um trabalhar mais para o bem comum, da nação, do que das ambições e vaidades individuais.  Essas pugnas de oposição e posição têm sido infrutíferas e nada de novo trouxeram ao desenvolvimento das economias, à semelhança de demais Países. Há que aplicar devidamente o crédito como antecipação do futuro, igualmente não se deve apoiar uma despesa sem se criar a receita correspondente. Continua o deputado democrata-cristão com o discurso dirigido à Srª Presidente, referindo que os governos devem trabalhar para retirar da sua administração todas as despesas, transferindo-as para os municípios, distritos, iniciativa individual. Descentralização é a palavra chave. Também é apologista dos partidos regionais que conhecem melhor o seu território e as suas gentes, criticando neste caso a Constituição que tal não consente. Depois, a disparidade entre a(s) ilha(s) e as regiões do interior. Estas, sem parlamento, nem representação suficiente, ao contrário daqueles que fica(m) mais próximos do núcleo (Lisboa).
A este propósito, Ousamos, Povo da Interioridade, tomar para nós essa reflexão, conhecimento e sabedoria, e, essa luta, na concretização da Justiça? Da Lei. Já que a Lei deve ser Justa. E o Interior, é País, e o País é um Todo completo. Diferente e Uno. É Território e é Nação. No contexto do desenvolvimento sustentável de todo o País e concretamente das regiões do interior, onde começa e acaba a designada solidariedade nacional ou local? E a nível Europeu onde nos encontramos inseridos (EU)? Ou a solidariedade é só “em parte” “alguma” e não a totalidade? Ou a solidariedade é só para aqueles que podem? Poder-se-á chamar de solidariedade “a ajuda económica e financeira” dos países ricos para com os países pobres ou em dificuldades se, pelo empréstimo de dinheiro cobram taxas elevadíssimas em juros? E que dizer da “dependência “dos países europeus (Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha…) relativamente a Entidades Internacionais e Europeias (FMI, BCE), face a “politicas de apoio financeiro” se, cobram nesses “apoios” milhares de euros, defendem as elevadas taxas de juros dos financiadores e levam os povos à desilusão, à ruína, ou à revolta (silenciosa ou não), após o seu endividamento, à miséria e à fome? Que alternativas de soluções e de esperança, têm os políticos e os responsáveis europeus e mundiais, para apresentar aos Povos neste mundo conturbado e de interesses económico-financeiros? E agora, com a emigração em massa dos refugiados de África e Oriente, seres humanos em busca de paz, pão e abrigo? A luta pela sobrevivência é uma luta feroz para quem nada tem, milhares de seres humanos que se transferem, como animais da selva em busca de melhores pastagens, assim, Homens, Mulheres e Crianças, como nós, se movem na ilusão de melhor vida. Em busca da felicidade!
Entra depois com a crítica do funcionalismo, do empregado público que rouba braços à indústria e a agricultura.
Será o sector terciário o ladrão do primário e do secundário? Pois não cria riqueza e só deles se aproveita? Que linearidade de visão política! Hoje, vemos numa só empresa, todos os setores em miscelânea, que se completam: ex: a indústria do vinho do Porto. A criação e tratamento da vinha, primário, a transformação em vinho e seu engarrafamento, secundário, e, a sua venda , marketing e turismo enológico, terciário.
Porque "governar é resistir". Assim, o ensino universitário deve ser pago pelos próprios à semelhança da Inglaterra.
Neste caso, os filhos dos pobres e da classe média baixa, nunca chegariam a ter cursos universitários, nem ascender na escala social, por mais inteligentes que fossem.
Bem assim da beneficência pública que só deve ser apoiada até começar a iniciativa individual. Gosta muito de economias. Passando às artes, só se deviam operacionalizar quando houvesse dinheiro para o efeito.
Isto é, nunca! Pois nunca há dinheiro suficiente, muito menos para as artes, de forma global.
Haja vontade para se fazerem economias. Na despesa é só cortar. Não olhar a meios nem a pessoas. Diminuir o funcionalismo. Nas receitas, aumentar as contribuições para aqueles que pagam pouco
nem que não tenham nada,
 e aqueles que pagam demais pagarem menos,
apesar de terem muito,
legislando-se se for necessário. Para o ex-ministro, ora deputado, que perguntou quando teremos governo? Teremos governo quando se colocarem de lado a política das paixões partidárias e das prevenções pessoais.  Teremos governo quando "a causa pública deve ser a nossa comum aspiração". Teremos governo "quando nos inspirarmos nos exemplos de abnegação, desinteresse e brandura que nos deixaram Passos Manuel e José Estêvão, e, muitos outros". Teremos governo "quando acabarmos com a injúria e a calúnia, afastando das cadeiras do poder os homens dignos que as devem ocupar" até se ir às galés e presídios recrutar os conselheiros da República. Em suma, quando cumprir a sua missão sabendo  "responder às esperanças com actos, às promessas com medidas práticas e às desilusões de hoje com providências sensatas, justas, profícuas e dignas do seu país".
Nestes aspectos concordamos, ora.
Mestre e discípulo transferiram-se para Florença onde novos voos os esperavam, como a representação da Virgem, aproveitando pois, Leonardo, para o levar à sua terra natal, Vinci, dando-lhe a conhecer o lugar de Anchiano e lhe relatar as lembranças da sua feliz infância e de sua mãe Catarina.
Que alegrias não o abrangeriam nesses momentos por poder partilhar com o discípulo, filho do coração, essas lembranças da meninice, resgatadas no paradigma da existência simbólica como ímpares e, jamais vividas?
Em Mântua continuou o seu trabalho laborioso de retratar sua duquesa. Outubro de 1503, a Signoria contratou "Leonardo para a ilustração de um fresco ilustrativo da Batalha de Anghiari, com o qual cobriria uma parede da Sala del Maggior Consiglio no 1º piso do Palazzo Vecchio", vendo ele um "empreendimento que asseguraria o futuro do seu protegido". Seguiram-se outras aprendizagens do discípulo como a participação no voo de uma geringonça construída pelo mestre que argumenta "Dirão um dia que não conseguimos, mas cada voo a si mesmo se inventa, e nenhum se repete, partamos pois, meu Filho, para outra viagem, não há bússola que nos comande, nem universo que nos detenha".
O discurso terminou com um baque no chão pelo corpo do deputado. Disseram que chegou morto ao hospital. Aguardava Parlamento a notícia oficial. Que chegaria. Óbito às 18 Horas. Teve minuto de silêncio e uma salva de palmas como nunca teve em 40 anos, este "Frade Negro". 65 anos de vida, boa altura para se reformar, modelo de "cavalheirismo, ética, discrição e resiliência".
Segue-se uma ironia cómica sobre a diferente posição / intervenção dos diferentes partidos.
Até que uma deputada socialista substituta pediu para falar, que comovida nem acabou seu discurso de defesa de João Félix Filostrato. Mas partiu em táxi, acompanhada de jornalista para apartamento de discípulo onde contou a sua história de amor. Aliás, de ambos." Foi amor à terceira vista".
Apenas e só. Coisa pouca, claro? Porquê então essas memórias de 40 anos? Desse amor recalcado tanto, tanto tempo?
O economista chefe queria agora aproveitar-se de deputada substituta.
Continua a intriga neste filme romântico policial, por desvendar.
Francesco Melzi, de origem fidalga, chegou para mal dos pecados do aprendiz. No seu trabalho de anatomista apoia Leonardo na dissecação de cadáveres, tornando-se o único zelador do seu arquivo.  "Um dia, impotentes para se sobrepor às respectivas fragilidades, Salai ao seu excesso, e Melzi  à sua contenção, engalfinharam-se um no outro, e na margem do Adda". Veio salvar o discípulo dessa rivalidade e ciumeira o convite recebido pelo amo para ir para Roma fazer maravilhas nos jardins de Belvedere do papa Giuliano Lorenzo de Médicis, irmão de Leão X. Assim, começaram os banquetes que Salai adorava frequentar. O 1º aconteceu no palácio do então embaixador português e futuro cardeal, Dom Miguel da Silva, onde a decadência do discípulo foi consumada.
Passara uma hora agitada a ouvir falar de si, interviera, caíra: onde o drama? Devo andar a água, se quero lucidez. O desemprego não metia medo, enquanto caísse mesada de pais que há muito não via, talvez felizes, talvez separados. Não saberiam que já trabalharia, e ganhava bem? Para quê maçá-los com doces afectos?
Pois, para quê? Para quê a família, as relações familiares, os amores, as paixões, os afectos, a amizade? Não é tudo isso uma baboseira pegada, para quem não se quer prender a nada e a ninguém, nesse antissocial comportamento psicopata?
"Uns serzinhos públicos e políticos não jogavam melhor, pois batiam o lajedo diversas senhoras de coluna social (com risco de, naqueles saltos eifellicos, estragarem a coluna) que, de política só gaguejavam " a gente somos", para dizer "nós somos" e borbulhavam "po-po", não povo, mas popó, jaguar ou porshe, audis, mercedes e BMW também serviam. Devoravam televisões, e algum construtor civil".
Aqui Ernesto Rodrigues é mordaz, devorador, acusador: mulheres ignorantes, de coluna social frequentes, que só gostam de quem lhes dá boa vida, as leve a passear e tenha guita, isto é, muito dinheiro, como os construtores civis, profissão que vale milhões.
"O economista chefe estava a gozar com a minha cara", pensava o estagiário de economia.
O olhar do rei de França, Francisco I, pousava em Leonardo, mas o de Leão X, vigário de Cristo, descia sobre Salai.
Coisa banal, não é? Centenas de anos em pedofilia ou homossexualidade na igreja Católica, e, não só. Neste livro Mário Cláudio revela-nos a homossexualidade masculina e o lesbianismo feminismo, tabus que emergem desde há séculos e sempre presentes na história da humanidade.
Vendo-se preterido perante Francesco Melzi, agora discípulo amado do mestre, Salai despede-se após 25 anos decorridos ao seu serviço, com uma bucha de pão e um cantil a tiracolo a caminho de Florença e depois a Milão onde se iria fixar. Mas Leonardo logo se apercebeu que Melzi nunca substituiria Salai, o discípulo eterno. Via-o e sonhava com ele a cada instante, pensando que um dia chegaria e lhe pediria perdão. De tanto o desejar ver e ter consigo, um dia, enviou-lhe uma oferenda constituída por um tríplice de víboras embalsamadas em que o seu discípulo reconheceu o sinal de visitar o eterno protetor. Partiu para a Corte de Francisco I, visitando de imediato o Mestre, e viu, de facto a simbologia das 3 Graças: Claudine, Alexandrine e Sarasine. Quiz casar com esta, constituir uma família, ter filhos. Em vão. Nos aposentos de Amboise descobriu a aliança das 3 fêmeas.
Era a vaidade de supervisor que organizava esta sintaxe. Um deputado e uma jornalista no seu labirinto. Joana, Nádia, Salomé, um convite a orgia, adiada. "O trio estava disposto a cumular-se de gozo, e dar-me o que delas tirasse, com o firme propósito de me sacanear"...eu, o "mais indefinido".  Tombou fulminado. Ela percebeu, que gritou, impondo-se ao líder da bancada, para falar. Que tinha eu a ver com ambos?  João Félix Filostrato, deputado, e João Félix Exposto, economista chefe? Meu pai, este? Avô, aquele? Seria muita coincidência...
"Giacomo Caprotli, Salai, ao procurar Sarasine ... " suspendeu por instantes a marcha, e pôs-se à escuta dos gemidos que se desprendiam de uma alcova onde jamais penetrara. Ergeu um reposteiro, ajustou a vista à penumbra, e ali estavam elas, Claudine e Sarasine e Alexandrine, cuspindo num delírio, e até que lhes escorresse pelo rego das mamas, o veneno que lhes golfava das bocas de víboras escorregadias e enroscadas no cio sem redenção. " " A cena... desencadearia em Salai uma espécie de torpor cinzento, vizinho da desesperança... deu em reparar no corpo do mestre, ali imóvel... o pintor transformava-se num cadáver desconexo, mercê dos agentes naturais, o calor das colinas toscanas, o frio do Vale do Loire, e a humidade lacustre que ressumava dos subterrâneos de Milão. E colara-se-lhe ao rosto uma máscara que só não era a do azedume da decrepitude, porque a amenizava a curiosidade do sábio, o que fazia com que o brilho do olhar apenas vagarosamente se despedisse dele".
A deputada assumiu o compromisso do projeto de lei. "Ela subiria a tal ponto a parada, entre considerandos sem-sentido, que a indiferença geral o aprovaria, em aplauso ao defunto, cuja memória assim cristalizava no diário das sessões". Súbito, numa reviravolta do maior partido da oposição..."Roía-me essa indiferença do economista-chefe, que adiava a própria vida...". É isto o purgatório. Tanto mais que o economista estagiário, narrador, continua confuso, indo à esquadra para interrogatório, saindo com termo de identidade e residência, prisioneiro, sem saber de quem.
"E achegando-lhe os lábios ao ouvido, a assumi-lo já como o defunto que resistia a enfrentar, o eterno discípulo murmurava incentivos e perdões, votos de emenda, e juras de fidelidade, coisas em que por inteiro desacreditava. Leonardo fingia não perceber tais gestos, usando da astúcia que tinha por adequada a promover a regeneração de um filho pródigo assim, não diverso afinal de quantos geramos, e que, se bem que não expressamente terminam em regra por devorar os próprios pais". .. E o jovem de antanho, ajustando ao gibão o cinto que o amo recentemente lhe oferecera, convocava a virilidade que supunha latente no âmago do seu ser...".  Mas no convívio a que revertera, e aparentemente liquidada a intriga tenebrosa, urdida pelas Três Graças, aproximara-se do mestre, movido pela coincidência que se estabelecera entre os dois, e que juntava o fisiológico descalabro do velho de agora à degradação anímica do rapaz de antigamente.
Ora, concluímos, há duas Nádias. A terceira, Nídia, vive algures. A deputada do PnCnO esclareceu já ser mãe de João Félix Exposto (economista chefe), filho de João Félix Filostrato, "vencido por um amor que, receoso de ver estragada a carreira política, deitou às urtigas". O remorso não lhe permitiu essa carreira; o remorso fulminou-o ao revê-la, quarenta anos depois... " A história repete-se tantas vezes: 21 anos depois,... De longe, Nídia seguia-o, já na Santa Casa da Misericórdia (pois o convento minguava em almas), em família de acolhimento, no ensino superior e no desemprego. A avó deputada, que dera os passos de Nídia, pagava mesada. Fora do sangue, depositavam vingança em Salomé. Na sua indiferença soberana, o economista precisava de uma lição. Enfim, o Projeto de Lei seria aprovado na última sessão antes de irem de férias. "Tanta produção legislativa no derradeiro dia não dignificava a Assembleia". Projeto este de que ninguém conhece articulado e só interessa ao banco de investimento. "A regularidade na vitória causa medíocres. Não há fórmulas, nem segredos. O negócio é estar, acompanhar, viver os dramas e alegrias da comunidade...". A indefinição das lideranças chocava os socialistas de gema, por quem a democracia chegara após o feito notável das armas noutra quinta-feira de Abril" (25 de Abril de 1974).
"Deteve-se diante dos aposentos do mestre, e entreouviu o hausto de gemidos, pungente e doce, em que se transforma a respiração dos que acedem aos píncaros da idade. Cinco vezes beijou ele a madeira da porta, e cinco outras se benzeu. Fugiu por fim à morte que invadia o que lhe talhara a vida, não como desistem os covardes que não podem amar, mas como escolhem os heróis que entregaram o coração para além da caducidade dos dias. Aberta a manhã, montou no último cavalo com que o Homem o presenteara, e fez-se à estrada da Itália. Conduzia a reboque a mula que alombava com o alforge onde não ele, mas o rapaz de sempre, metera uma manta, duas fogaças, e uma botelha de vinho".
O debate de 3ª feira foi curto "pois havia reuniões marcadas com autarcas e eleitores descidos da província, coitados, onde encerram escolas, centros de saúde, tribunais e outros serviços, como furiosa legislação produzem iluminados...  intervenção que mandava aqueles às malvas, coitados, que, de outro modo, teriam de dormir em hotel ou residencial manhosa, passar a noite em discotecas, perigando a moral da província e seus "lídimos representantes". A faena seria vitoriosa. Tal como as imagens que procediam as touradas..."tradição de eras bárbaras não cabia no quadro de uma civilização respeitadora dos direitos dos animais - e, cada vez mais, assassina de humanos". E o crime violento? "Dentro deste, o crime bancário seria um sudário de vilezas". "Deputados que se limitam ao "Quem me dera" deviam mudar de actividade". Nessa sessão as intervenções do período de antes da ordem do dia, foram quase todas em votos de dor e louvor ao companheiro desaparecido, colega ausente, eleito ilustre, toureiro emérito, ao reformador do discurso político oitocentista. Sem discussão, nem declarações de voto, foram aprovadas por unanimidade e aclamação as 6 moções. Seguiu-se um minuto de silêncio. Uma avaria arreliadora não permitiu a votação electrónica, obrigando cada um a levantar do lugar o fundo bom que em nós existe, o que seis vezes seguidas, e no esforço (dura mão d'obra) de bater palmas, causa bastante".
É para rir aqui. Ah! Ah! Este sentido de humor genial de Ernesto Rodrigues! Bater palmas é trabalho bastante, cansativo, mão d`obra pesada,  e, que dizer da  bela imagem para designar traseiro: "fundo bom que em nós existe"? Com efeito. Tem muitas vantagens!
Salai iniciou um torpor cinzento, desesperante, enquanto o Mestre se transformava em cadáver inútil. Não quiz assistir à sua decrepitude e voltou para Milão. O velho delirava na aproximação da morte, continuando a amar este filho pródigo e a dar-lhe lições de vida. Na agonia da morte foi apoiado por Francisco I, Rei de França e Duque de Milão, a quem em sua presença chamava "Meu Filho, meu Companheiro, meu Irmão, meu Eu, meu Tudo", a Salai. Melzi ficaria com quase a totalidade da sua herança, imaginando-se já inserido na alta nobreza e regalando-se por ficar para o Discípulo eterno, não mais que metade da hortazinha de Milão. As 3 Graças também sairiam do Palácio, indo juntas habitar uma choupana na floresta, onde recebiam viajantes ricos e com eles dormiam duas a duas. Nas conversas delas falavam dos homens,  "Todos iguais, inúteis para o que exceda aquilo que lhes ordenamos". Mas que teria acontecido ao desgraçado Salai? Tal resposta foi dada por Sarasine, sua ex-apaixonada, quase noiva:  " Consta que se mostrou em Milão o fantoche que sabemos, frouxo de vontade, e amante das penumbras em que a razão cede ao alheamento de si própria"... "Casou-se pelos vistos com uma tal Bianca Calidiroli d`Annono, muito bonita, sensata e afectuosa, assim a pintam, como se o inteiro mulherio não fosse da nossa laia, um rebanho de cabras que ora seduzem, ora se entregam, ora traem, ora se enfurecem, ora cheiram a perfume como as que andam a estas horas na Corte, ora a ranço como nós nos tempos que vão correndo"... "Quanto ao mais", finalizaria ela com voz entaramelada, "parece que morreu o tonto por efeito de um disparo de arcabuz".
Afinal a depravada Sarasine gostou ou gostava de Salai! Essa voz entaramelada, quase chorosa, pela sua morte, nessa palavra meiga de "tonto"! Depois, só ela é que seguiu a sua vida! Do seu casamento? Não demonstrou ciúmes da esposa bela e afectuosa com que o seu ex-apaixonado se casou? O que diz? Que todas as mulheres são iguais a ela, e às 3 amigas, irmãs, rebanho de cabras que ora seduzem ou se entregam, ou traem, enfurecem, quer cheirem a perfume ou a ranço. Cruel, neste final, Mário Cláudio! Para com as mulheres. Todas as mulheres! Dito por uma mulher!  E que dizer do Discípulo eterno e querido de Leonardo Da Vinci? Que morreu, como viveu: sem glória e pouca honra!
A juntar a outros incómodos, não se cansaram de aplaudir a decisão de encerrar a tarde, que cavalgava lá fora, num convite, e fossem atrás dela, para alívio de penitentes". Nesse instante fagueiro, quando fim-de-semana sorri, deu entrada no plenário João Félix Filostrato ou o "Frade Negro", que afinal não morrera, pois estava bem vivinho da silva. E logo a Presidente da AR: "somos um país de gente precipitada". e "numa jogada de mestre... convidou-o a falar da tribuna", nessa 5ª feira, dia 9 de abril.
Afinal, João Félix Exposto era filho de João Félix Filostrato e pai de João Félix, e amara uma freira, Redenção, de nome Nídia. Salomé e Nádia foram presas. E, quando os bons acabam bem e os maus mal, pelo castigo do destino, tudo acaba bem neste romance quase policial, quase narrativo, quase dos tempos duma Assembleia oitocentista, de Ernesto Rodrigues e, esse tal projecto de lei ridículo, que soava a promiscuidade, corrupção, luvas, fraude fiscal, abuso de confiança, etc, para arruinar de vez os dois João Félix, o Filostrato e o Exposto, mas quem morreu, afinal, foi o Deputado da Frente Unida... tal mistério!

Terminamos este breve ensaio sobre:
"Retrato de Rapaz" Um discípulo no estúdio de Leonardo da Vinci, Romance, Alfragide, Pub. D. Quixote, Edição Mª do Rosário Pedreira, 1ª edição, Maio 2014, de Mário Cláudio: escrita difícil, exigente, laboriosa. Escrita pensada, reflectida. MC não vai ao sabor do pensamento ou da pena. Filtra. Filtra as palavras. As ideias. Porque é difícil escrever. É importante saber o que o autor escreve, ter espírito de tempo e de lugar: trabalhar todos os dias sobre a vida de todos e de cada um. Abrir horizontes em milhentas viagens e experiências para conhecer, reflectir, aprender e transmitir.
"Passos Perdidos", Romance, Editora Âncora, Lisboa, 1ª edição, Dezembro 2014, de Ernesto Rodrigues: criando um modelo de escrita em que não existem regras gramaticais, pois não são necessárias para um autor da sua exigência, em causa constantemente, já que não tem de provar nada a ninguém, a não ser a si próprio no caminho da perfeição contínua. ER reflecte incessantemente uma arte criativa multifacetada. Escrita culta e irónica da nossa época moderna, em diálogo e percurso relacional com outras culturas díspares, próximas e longínquas. Ser escritor é uma missão global para quem o quer ser.

Boas Leituras, pois.

Bragança, 2015
Maria Idalina Alves de Brito
(Lara de León)

ENSAIO: Mariana Coelho


PEQUENO ENSAIO
Sobre
" MARIANA COELHO
Uma educadora feminista Luso-Brasileira"
de
Aires Antunes Diniz

De autoria de Aires Antunes Diniz e com o apoio da Câmara Municipal de Sabrosa, chegou è estampa em setembro deste ano de 2015, com 284 páginas, a obra " Mariana Coelho - Uma educadora feminista Luso-Brasileira ".
Que reflexão farei sobre a mesma, questiono-me.
Diniz evidencia uma escrita ampla, fundamentada em investigação profunda, escorreita, atrativa, que dá gosto ler e o querer conhecer mais sobre Mariana Coelho. Dinis escreve bem. Um bom português, uma linguagem clara, personalizada, desenvolvida e motivadora.
Chegamos ao fim da leitura com a sensação de que a história desta educadora feminista não está completa, ou melhor, encontra-se inacabada e, com toda a certeza, muito mais haveria para dizer quer da sua vida em Portugal, quer da sua vida após a emigração para o Brasil, até à sua morte, aos 97 anos de idade.
É certo que poderão ter sido vistas e analisadas pelo autor todas as fontes que encontrou, disso não tenho dúvidas, dado o seu rigor na investigação científica. Porquê então esta sensação de incompletude? Aliás, como refere Diniz na nota de Apresentação, pág.18, 1º e 2º parágrafos, no que se refere á colaboração de Mariana Coelho em jornais portugueses, escreve: "Fizemos o que era possível para explicar esta partida com base nos arquivos portugueses, mas não conseguimos encontrar a colaboração de Mariana Coelho nos jornais portugueses de 1887, quando começou a publicar, a 1892, ano em que partiu para o Brasil. Falta agora estudar os arquivos brasileiros de Curitiba e os jornais onde ela e o irmão colaboraram ou lideraram. Mas isso fica para quem está do outro lado do Atlântico". (Aqui refere-se a Leonardo Iorio, sobrinho trineto de Mariana Coelho).
Com efeito, das 250 páginas de texto, dois terços são dedicados á crise do Douro pela invasão da filoxera em finais do século 19, e, só um terço a Mariana Coelho, à origem da sua família em Vila Real, Sabrosa ou Lamas de Orelhão, Mirandela, e, à sua vida em Curitiba para onde emigrou em 1892 como seu irmão mais velho, Carlos Alberto Teixeira Coelho (1866-1926), e família deste.
Foi professora e educadora, fundando em 1902, 10 anos após a sua chegada a Curitiba, o Colégio Santos Dumont, escola de ensino primário e secundário, que prepara alunos para acesso à Escola Normal e ao Ginásio.
Foi escritora, poetisa, anarquista, socialista, maçónica e espiritista.
O Feminismo, sua evolução e emancipação da mulher nas suas diversificadas vertentes interventivas e a defesa da natureza, animais e plantas, foram os grandes pilares da sua escrita em fase já de adultidade, pois começou a publicar em 1887, tinha então 30 anos.
Seguidora das ideias de Jacques Novicow, sociólogo francês, membro e vice-presidente do Instituto Internacional de Sociologia, e de Sampaio Bruno, aliás, José Pereira Sampaio, diretor da Biblioteca Municipal do Porto, no que concerne à emancipação da mulher, mas não as relativas ao amor livre. Concordava com o socialismo nos valores que defendia pela autonomia e dignidade da mulher.
Viveu Mariana Coelho uma vida longa (1857-1954) de saudades, no início, da sua vida em Portugal, mas do seu saber adquirido, levou consigo a força de vencer em terras brasileiras onde se emancipou e desenvolveu uma intensa actividade docente, social, literária e política.
A emigração, a que se viu forçada a sua família pela crise agrícola (filoxera), económica e social da região duriense, contexto histórico marcante da sua vida, pela falência da Quinta de Valcovo, Santa Comba da Ermida, sita nas margens do rio Corgo, património rural de sua mãe, Maria do Carmo Teixeira, pela quebra de rendimentos agrícolas que a impediu de honrar os seus compromissos, bem assim a morte de seu pai em 1882, Manuel António Ribeiro Coelho, farmacêutico e grande agricultor de Sabrosa, contribuíram indubitavelmente para as suas ideias feministas e anarquistas, envoltas de uma simbiose revoltosa que passou para a sua atividade política e literária.
Em 1949, Mariana Coelho referia como escritos por si os seguintes livros: Discursos; Paraná Mental (cuja 2ª edição o autor leu, e editado pela Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba);  Evolução do Feminismo: Subsídios para a sua história, editado em 1933 pela Imprensa Moderna, Rio de Janeiro e que Mariana escreveu aos 76 anos; Um brado de revolta contra a morte violenta; Linguagem (Tese que apresentou no Congresso das Academias de Letras e Sociedades de Cultura Literária do Brasil); "Cambiantes", Contos e Fantasias, livro mais de carácter intimista; e Palestras Educativas.
Por último, quero lançar um repto a Aires Antunes Diniz: Não escreverei uma única linha sobre a Filoxera e a Crise da Vinha no Douro e em Portugal nos finais do século 19, princípios do século 20, tema deveras importante para se consignar a ser subalterno neste livro.
Por mim, optaria por 2 obras distintas: uma, sobre Mariana Coelho, aproveitando os capítulos nºs 1, 6 e 7 desta sua obra a que acrescentaria mais elementos analíticos dos livros escritos por Mariana Coelho e o seu pensamento; outra, sobre a Filoxera e a Crise da Agricultura no Douro e em Portugal, que tão bem e pormenorizadamente descreve nas restantes páginas deste seu livro.
Boa escrita, pois!
Bragança, dezembro de 2015
Maria Idalina Alves de Brito

ENSAIO: Barroso: Resgate da Memória de Bento da Cruz


ENSAIO
REFLEXÕES SOBRE
BARROSO: RESGATE DA MEMÓRIA DE BENTO DA CRUZ
DE
ANTÓNIO CHAVES

ANTÓNIO CARNEIRO CHAVES, nasceu em Negrões, concelho de Montalegre, a 20 de novembro de 1943. Licenciado e Mestre em Economia e Economia Europeia, respetivamente, foi correspondente da RTP e do semanário O Jornal, quando viveu na Bélgica. Foi docente do ensino superior, empresário, colaborador da imprensa regional, escreveu monografias e argumentos e obras ficcionais sobre o Barroso e esteve ligado a várias associações da área da cultura. Conheci-o enquanto Presidente da ALTM.
BENTO DA CRUZ, nasceu a 22 de fevereiro de 1925 na aldeia de Peireses, concelho de Montalegre e faleceu na cidade do Porto em 25 de Agosto de 2015, com 90 anos de idade. Exerceu medicina ao longo de cerca de 50 anos, mas ficou conhecido, sobretudo, como romancista. Descreveu de forma admirável a aldeia da sua infância e como era a vida de então – as gentes, a terra, os bichos, a paisagem, deixando-nos imensa obra literária. Infelizmente não o cheguei a conhecer…

Que dizer então deste livro de António Chaves?
Barroso: Resgate da Memória na Obra de Bento da Cruz?
Para mim, é o seu Grito de Ipiranga para os novos tempos!
Tendo por base a obra de Bento da Cruz, deu-lhe o seu cunho pessoal, a sua visão do Barroso, de Portugal e do Mundo!
Mais que uma obra de lembranças ou resgate de um autor, Bento da Cruz, "o maior escritor do Barroso", nascido na aldeia de Peireses em 1925, este, é um livro de história, filosofia, economia, cultura e religião, sociologia e política, etnografia e antropologia.
Uma reflexão da vida do Barroso, e, da sua terra natal, Negrões, na interrelação com a obra e vida de Bento da Cruz, mas que vai para além dela?
– pergunto a António Chaves:
Não é a sua história evolutiva numa análise comparada com a de Portugal e da Humanidade?
O Barroso e suas gentes, têm uma nova visibilidade, globalizante, interrelacionada, e não fechada em si mesma, pois o micro também é macro, e vice-versa?
O seu amor à sua terra e gentes, ao Barroso, levou-o a escrever sobre uma miscelânea de temas e conteúdos, para, tal como o seu povo: "saber quem era, para onde ía e para onde queria ir"?
Um livro para ler e apreender até ao fim…
Porque não dizer, tal como Bento da Cruz, que "o Barroso é um paraíso"?
Na subjectividade de cada um de nós, temos sempre algo: lugar ou pessoa, situação, estado emocional, que é o nosso paraíso na Terra! Podemos dizer que é utopia distorcida, negação da visão da realidade tal como é, ou a profunda liberdade íntima? Ou as duas coisas?
Na vida actual e esquizofrénica de cada um de nós, emerge na sua essência esse desejo de "mudança", porque nela habita a insatisfação dos indivíduos.
E porque não acentuar "a grande meta" de vida do escritor? :
"Assinalar a sensibilidade, os sonhos, o amor, as formas de vida, a entrega ao próximo e construir com esses materiais um verdadeiro hino à vida"?
Tal o fez há quase um século atrás, com "rigor e perspicácia" esse escritor realista, que foi Bento da Cruz, pela sua análise crítica e descrição das múltiplas vidas anónimas da população do Barroso?
Como preferenciando as suas palavras: " A nova História Cultural, contempla os conflitos e as estratificações sociais, dando prioridade à construção histórica a partir das ações e comportamentos das massas anónimas".
Mas a infância de Bento da Cruz, não foi muito diferente das demais crianças da sua aldeia, a sua vida, sim: "Foi pastor de gado, montou a cavalo, trabalhou no campo, estudou medicina e foi médico de profissão. Teve intervenção política, pois foi deputado, criou e dirigiu um jornal desde o 25 de Abril de 1974, até à sua morte, em 25 de Agosto de 2015".
Mais, numa síntese de vida: "Homem de letras e analista da sociedade rural do seu tempo, cumpriu a sua trajetória de escritor, acompanhando a par e passo os seres humanos que nasceram dentro da mesma condição e com os quais compartilhou experiências de vida no seio de uma pequena comunidade rural de montanha, registando e dando testemunho das formas de viver e de pensar, dos sonhos, ideais, crenças, amizades, deslumbramentos, fracassos, sofrimentos e traumas da sociedade rural, frágil e em acelerada desagregação social, perante o choque de um presente formado por comportamentos, valores e atitudes que impõem respostas novas, face aos desafios atuais, marcados por instantes de incerteza, pouco reveladores de um futuro promitente".
Porém, no paradigma do paraíso da infância e tal como dizia Garcia Marques: "a vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda, para contá-la".
E conta-a, António Chaves:  
A aldeia de Peireses de antigamente, a região do Barroso ficcionada pela pena de Bento da Cruz: "planalto ou meseta, assente em quatro serras principais e respectivos contrafortes: Larouco a Norte, Alturas a  Nascente, Cabreira a Sul e Gerês ao sol-posto".
Uma análise crítica da história e da economia da região: "uma terra, uma língua e uma história".
A sua aproximação à Galiza, à mitologia celta e a Breogan (fundador da nação galaica), à chegada dos Suevos, Romanos, Visigodos e Muçulmanos, aos seus habitantes autóctones Iberos, para falar na Ibéria, sua geminação e povoamento, à alta Idade Média, formada pelos Condados Galego e Portucalense, até à independência deste.
Fala-nos do idioma e da língua portuguesa e galega que: "Durante muitos séculos, desde o reino dos suevos, no século V, cuja capital era Braga, até ao rei Garcia, no século XI, cujos domínios se estendiam até ao rio Douro, nós fizemos parte de um mesmo povo, com as mesmas crenças, as mesmas leis, os mesmos usos e costumes, a mesma língua "  até ao domínio dos Filipes II, III e IV de Espanha, e I, II e III de Portugal, como, " Perdida a independência da Pátria, os portugueses refugiaram-se na independência da língua",  já que "a partir do século XV começou a notar-se a influência da língua castelhana, e no século XVI , período de ouro da Literatura Portuguesa, a maioria dos escritores já era bilingue, como Gil Vicente e Luís de Camões".
Reanalisa o mundo rural das aldeias raianas: a aldeia dos camponeses, a aldeia de empresários agrícolas e a integração espacial, numa análise sociológica e económica da ruralidade e a centralidade da obra de Bento da Cruz dos anos trinta do século passado, que é realizada em linguagem e conteúdo emocional, "na descrição das personagens que não se podem deixar de amar".
Aliás, este livro de António Chaves, no subconsciente da sua narrativa, é fundamentalmente, no meu parecer, uma manifestação de amor e saudade às raízes, à terra onde se nasceu, e é também, simbolicamente, o grito, ou uivo do lobo das serras que protegem o Barroso, na amarfanhada revolta contra a situação em que presentemente essa terra amada se encontra, e que os diferentes poderes do Estado e outros, mais contribuíram para o empobrecimento e infelicidade do seu povo.
É, em suma, um Manifesto de Liberdade! A sua liberdade, em defesa do Barroso!
Reinventa a história, a memória e a identidade da Terra do Barroso, desde os castros (crastos), à idade do bronze e do ferro e às suas reflexões filosóficas sobre a história dos Seres Humanos e evolução civilizacional: "Era do caçador e coletor, Era agrícola, Era industrial, Era da informação, Era do conhecimento e Era da sabedoria", pela liberdade de escolha de cada uma das pessoas.
Com alguma profundidade, analisa o Mundo Celta: a sua língua, organização social, religião, a sua fixação na Península Ibéria e chegada na Idade do Bronze.
Passa à Romanização: "difusão da língua latina, generalização dos cultos religiosos e das formas artísticas, presença militar, criação de importantes centros populacionais e o estabelecimento adequado de uma rede viária", para além da conquista da Península Ibérica e razões para a mesma (reservas minerais de ouro, prata, cobre e estanho).
Segue-se o impacto das imigrações bárbaras no Norte de Portugal, como do povo Suevo e Visigodo e da importância da Crónica de Idácio (Cronicão), bispo de Aquae Flaviae (Chaves) entre 427 e cerca de 470.
O Domínio Muçulmano da Península Ibérica e a Reconquista Cristã.
Para, na sua globalidade e complexidade, nos falar da construção da identidade do povo do Barroso: força de carácter e relacionamento fraterno.
O território linguístico e cultural, os dialectos portugueses setentrionais (como o dialecto barrosão), para parafrasear Mendez Ferrin, no seu prefácio à versão em galego do romance A Loba, de Bento da Cruz ... "serão muitos os leitores a deixar a última página... com "lágrimas de unção e tristeza". Nos seus peitos viverão sempre, sempre, os personagens terríveis deste romance destinado a ficar como uma firme referência", tal como os Apontamentos da Biografia de Maria Manta e seus inúmeros filhos de pai incógnito ou zorros.
E que dizer, dos vários retratos da aldeia de Peireses dos anos 30? Como: a chegada de uma professora; a paisagem silvo pastoril e agrícola; a casa do lavrador; os conflitos entre aldeias vizinhas; carta do padrinho e desilusão da sua vida de emigrante na América; a estratificação social; a actividade económica que sustenta a presença humana: as matanças e a exploração do volfrâmio; a música de Parafita; a escola de Gostofrio; a Guerra Civil de Espanha (1936-1939); memórias antigas de Natal, tempo do Seminário ou o velho Jandias, entre outros.
Segue-se depois um capítulo sobre "O Barroso na pena de outros escritores"... como Ferreira de Castro (1898-1974), Frei Luís de Sousa que descreveu a visita pastoral do Bispo de Braga, Frei Bartolomeu dos Mártires, depois do regresso do Concílio de Trento ou de Camilo Castelo Branco no seu romance  Doze Casamentos Felizes, que ironicamente é criticado por Bento da Cruz no seu livro Camilo Castelo Branco, por Terras de Barroso e Outros Lugares, referindo que "nunca tenha subido às Alturas do Barroso, com mula ou sem ela".
Mudando de assunto, como que uma quebra do conteúdo ou desorganização na organização do tema, talvez para justificar o seu pensamento e a visão da actual realidade, não tão longínqua do século 19, António Chaves, passa para um capítulo designado "Fatores Portadores de Evolução", entrando na "Educação e a Escola" e, nas "Melancólicas reflexões sobre a Instrução Pública", tendo por base a análise acérrima ou ferozmente crítica e irónica, sobre o papel das Autarquias (Câmaras Municipais) e respectivos Vereadores, em Eça de Queiroz, num artigo publicado em 1872, após uma série de dados estatísticos relativos à Instrução Pública em Portugal, acabando por dizer que "A instrução em Portugal é de uma canalhice pública! Que o actual Governo volte os seus olhos, um momento, para este grande desastre da civilização!" Ao que António Chaves concluiu, sublinhando Riccardo Petrella, que os "investimentos na educação têm forçosamente um efeito de longo prazo, em termos de desenvolvimento económico e social" e apela dramaticamente a que o mundo de hoje, necessita de "líderes sociais" (e verdadeiramente políticos, líderes da polis, causa pública, digo eu) e termina com o fenómeno da superioridade ilusória, efeito Dunning-Kruger, que consiste no "carinhoso apelido de "idiotas confiantes"".
Entrando na última parte desta obra de António Chaves, que é dividida em 2 capítulos, sendo, no meu entender, a mais política, pela sua análise clarificativa e indutora de críticas, a considerar: Baldios em Portugal, em período de transição, e, a Reinvenção dos Bens Comuns.
No primeiro capítulo, destaca os Meandros do Poder no Estado Novo, nas suas alianças com a alta finança, e as consequências para a economia agro-pastoril; o Plano Florestal e a construção de Barragens; a Junta de Colonização Interna e a criação de Colonatos, bem assim os Projectos de Aproveitamento dos Baldios em Montalegre.
Critica a injustiça social dos elevados salários dos CEO (nomeadamente da EDP) em comparação com o salário mínimo nacional (SMN) e os investimentos estrangeiros (China), para dizer: " verdadeiramente insuportável é a descriminação, sempre desfavorável ao mais frágil, ao mais pequeno - uma constante da nossa história".
Como eu comungo com ele, esta análise! Uma frase demolidora e tão verídica! A realidade da vida das pessoas pobres, carentes, exploradas e abandonadas, é muito mais discriminatória, forte, intensa, desce mais fundo e ecoa mais alto, que todas as palavras que se possam dizer!
Entremeios, lembra que "Os desequilíbrios estruturais em que hoje vivemos têm a ver com decisões concretizadas nos dois últimos séculos" e invoca Aquilino Ribeiro em Quando os Lobos Uivam no qual afirma que: " A serra é dos serranos desde que o mundo é mundo, herdada de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar, connosco se há de haver".
E o que são baldios? Relembra as Ordenações Manuelinas, século 16, livro 4, titulo 67, e, refere Bento da Cruz em respeito aos mesmos "... 80 % da matéria-prima que sustenta a economia local é produzida de forma espontânea no monte",  pois é o monte que fornece a lenha; os matos para as cortes dos animais e estrumeiras, que se convertem em fertilizante, o pasto para o gado miúdo e gado maior ou bovino.
Novamente, insiste na crítica social e política, em como "certos privilegiados se situam acima da lei, alheios à responsabilidade social imanente a toda a organização moderna e responsável; e tudo isto porque julgam que esta população, sendo frágil e desprotegida, deixa de ter capacidade para reivindicar, tal como presentemente sucede a algumas categorias profissionais e aos reformados dos serviços públicos" e acentua uma crítica acérrima ao Regime Vigente, mesmo após o 25 de Abril, já que, como diz José Mattoso  "o governo do povo favorece quem já tem o poder" e mais "sendo bom conselho estar atualizado com os factos, falta aqui ainda um dado importante: a EDP fechou o ano de 2012 com lucros de mil, e doze milhões de euros, praticamente um terço do preço pelo qual foi inicialmente vendida à China. Mais palavras para quê? " "Meus Caros: negócios da China é ao que certos iluminados portugueses se consagram, em nome do povo, e na defesa das suas legítimas aspirações..." e no Barroso "Foi um fartar de vilanagem, enquanto o povo aturdido com o que acontecia ao seu redor ficou incapaz de ordenar o pensamento e de saber como reagir a tanta desgraça junta".
Pois, o que dizer mais? Como soltar as amarras que nos prendem a tanta angústia e desilusão vivida?
Passa depois à descrição e apresentação das 5 colónias no concelho de Montalegre e ao número de casais que albergava cada uma delas e as colheitas agrícolas que as orientavam, como a batata de semente.
Por último, o capítulo da Reinvenção dos Bens Comuns, numa tentativa da descrição das causas da pobreza da população do Barroso e da sociedade industrial, e o surgimento do proletariado, invocando a obra e investigação de Elinor Ostrom, primeira mulher distinguida em 2009 com o Prémio em Honra de Alfred Nobel para a área das Ciências Económicas, que concluiu que a " propriedade comum pode ser gerida com sucesso por associações dos próprios interessados", diga-se, criação de cooperativas, quer de carácter micro e macro, devidamente organizadas e regulamentadas, e não pensarmos que as gestões privadas ou estatais, são as melhores e as únicas, a ter êxito.
Em síntese, transmite, como conclusão, ao Resgate da Memória:
. Trás-os-Montes e por conseguinte o Barroso, conservaram "ao longo da história uma identidade e cultura fortes". Mas a cultura também pode adoecer, pelo que tem de encontrar respostas adequadas aos desafios que lhe são colocados.
. Nos tempos modernos, líderes e seguidores firmam os seus papéis num pacto inconsciente. Cresce a conspiração silenciosa. Poucos são os que têm a coragem de reconhecer que caíram nessa armadilha.
. Na situação actual, " a falta de oportunidades de trabalho fez baixar as expectativas sobre o futuro. As pessoas vão perdendo a natural e habitual alegria. Crescem, em seu lugar, as preocupações e a incerteza. A incerteza é até certo ponto, uma mola que nos move, mas a partir de uma certa intensidade desencadeia ansiedade e insegurança, perde-se a coesão de grupo e destrói-se a condição básica que suporta a confiança".
Reajamos, então!
Superemos esse mutismo e indiferença!
E tal como a "A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, aprovada em 2005 pela Unesco", refere: A cultura é como uma lente através da qual vemos o mundo. A identidade de um povo, dela faz parte.
E, para além da última frase da obra de António Chaves, Barroso: Resgate da Memória na Obra de Bento da Cruz, com 248 páginas, 1ª edição, Guimarães, Editora Cidade Berço, Dezembro de 2016, ou a 2ª edição com 221 páginas, Lisboa, Âncora Editora, Fevereiro de 2017, de Vandana Shiva "é preciso colocar a pesquisa efetivamente ao serviço dos movimentos populares e rurais e não fazer apenas de conta que os estamos a ajudar", invoco, aos habitantes anónimos do Barroso, que têm construído a sua própria história, resistindo a diferentes formas de opressão, com força, coragem e determinação, um dos seus conterrâneos,
Miguel Torga, e o seu Sísifo (Diário XIII)
" Recomeça... se puderes. Sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade. Enquanto não alcances não descanses. De nenhum fruto queiras só metade... E nunca saciado, vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo o logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura onde, com lucidez, te reconheças...".

Bragança, 25 de Maio de 2018
Maria Idalina Alves de Brito
(Lara de León)