" A ESCOLA "
Olá, bom dia a todos e a todas.
Chamo-me Ahmed Bou Zid, sou tunisino da cidade de Tozeur e um grande admirador
de um conterrâneo meu, de que lhes vou falar aqui neste belo anfiteatro 1 da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o poeta Abu el Kacem Chebbi.
Desculpem o meu português. Desejaria que fosse mais correcto, pois, por vezes,
junto-lhe palavras espanholas e francesas,
mas, mesmo assim, penso que nos iremos entender muito bem... Sou professeur de literatura tunisina na
Universidade de Tunes, poeta em muitas horas vagas e, porque o salário que
recebo na universidade mal dá para as despesas da familie, durante as férias sou guie
turistic de grupos de língua portuguesa,
espanhola e francesa. Tenho 3 filhos menores e sou marido de uma só femme,
mulher, dona de casa, que vive comigo em Tunes.
A Tunísia é um pais encantador,
aberto a novas culturas e, que mais se evidenciou, após a Primavera Árabe. Possui
uma indústria turística em franc desenvolviment que remonta à década de
60 do século passado. Cheio de contrastes, o meu país tem maravilhosas
paisagens que merecem ser visitadas: praias, deserto, planícies e planaltos,
oásis... Desde Eljem e o seu anfiteatro romano, o maior de África, até Matmata
e as suas habitações trogloditas, típicas casas subterrâneas das povoações
berberes, até Douz "a porta do deserto" e os seus dromedários,
passando por Debebcha e as suas figuras arenosas, à montanha de Tamerza e a sua
cascata, o Palmeiral de Gafsa ou de
Nefta, a Carthage, Cartago e as suas ruínas, e, às praias de toda a zona
mediterrânica... Não deixem pois de o visitar...
Feitas as apresentações e, antes de vos falar do grande poeta Chebbi, vou
ler-lhes um conto, intitulado "A
Escola" escrito por uma portuguesa de Trás-os-Montes, também professora como eu, que
conheci em 2006, Bárbara Cristina
Sobral, e, com quem conversei durante horas no hotel Al Mourabi em Hammamet,
cidade costeira e com uma belíssima praia de areia branca...
Antes da Primavera Árabe a
situação política do meu País não era o êxtase que hoje é, como aliás aconteceu
convosco com o 25 de abril de 1974... Havia já alguma abertura politique ao ocidente, mas não a
democracia que hoje vivemos e construímos todos os dias. A vida era muito dura
para todos nós, assim como para os portugueses... Poucos frequentavam a escola
e esta era um edifício muito rudimentar em tijolo, onde as crianças se sentavam no chão ou em
bancos feitos com troncos de palmeiras secas. Aliás, o grande poeta, fala-nos
disso na sua obra. O ensino era vedado às mulheres e só os jovens do sexo
masculino, de uma certa elite, é que o frequentavam... Em Portugal, as mulheres
frequentaram mais cedo a Escola, mas as condições que tinham há 50 ou 40 anos
atrás, também não eram as melhores, como poderão comprovar no conto que lhes
vou ler dessa minha amiga, e, que me ofereceu, há mais ou menos, 8 anos... Ele
é um retrato vivo de uma aldeia transmontana, antes da revolution dos cravos e de que eu gosto muito, pela simbiose de
realidade e ficção, autenticidade e criatividade... Vou então ler...
Gracias,
merci beaucoup, obrigada, por me ouvirem ainda... Lembram-se de
alguma escola igual ou semelhante a esta? Foi a de vossos pais? De vossos
avôs?... Gostaram deste conto narrativa?... Foi interessante? ... Não é um
retrato presente de cultura, socialização, psicologia e filosofia da sociedade portuguesa
rural, de há 50 anos? ...
Vou agora falar-lhes do poeta nacional
tunisino Abu el Kacem Chebbi. Nasceu em 1909 na cidade de Touzer e faleceu em
1934, de doença súbita, em Tunis, com apenas 25 anos! 25 anos! Na flor da
juventude! Quanto ainda tinha para dar à Tunísia e ao mundo! Para nós, tunisinos,
é o poeta da liberdade, da resistência, em pleno protetorado francês na
Tunísia... Muito jovem viajou por todo o país, conhecendo a vida difícil do
nosso povo que ele muito amou....foi nele que se inspirou... Os seus 135 poemas
falam-nos da natureza, de amor e de patriotismo... Não têm em Portugal poetas e
escritores assim? Lembram-se de alguns?...
Nota: Este conto foi inspirado no capítulo: A Minha
Escola Primária, do meu livro " Na Margem Esquerda da Ribeira",
1ªed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 2004
Lara de León
(Pseudónimo
de Maria Idalina Alves de Brito)
Bragança,
Agosto de 2014
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